Morte e vida severina

      "Tá" fazendo calor demais, não "tá"? 

      Você já pensou há quanto tempo não sentia um calor como esse? Ou talvez já tenha pensado em como poderia ser pior? 

      Se você nunca se fez nenhuma dessas duas perguntas, vale a pena dar uma lida no poema abaixo, do poeta Ulisses Tavares.

Além da imaginação

Tem gente passando fome. 

E não é a fome que você imagina entre uma refeição e outra. 

Tem gente sentindo frio. 

E não é o frio que você imagina entre o chuveiro e a toalha. 

Tem gente muito doente. 

E não é a doença que você imagina entre a receita e a aspirina. 

Tem gente sem esperança. 

Mas não é o desalento que você imagina entre o pesadelo e o despertar. 

Tem gente pelos cantos. 

E não são os cantos que você imagina entre o passeio e a casa. 

Tem gente sem dinheiro. 

E não é a falta que você imagina entre o presente e a mesada. 

Tem gente pedindo ajuda. 

E não é aquela que você imagina entre a escola e a novela. 

Tem gente que existe e parece imaginação.

(Ulisses Tavares)

      Vale a pena também tirar 22 minutos, para ouvir o episódio do podcast O assunto, com a jornalista Natuza Nery, publicado nesta quinta-feira, dia 16 de novembro. Há um mundo de gente lá fora, nas calçadas, sentindo um calor que você nem imagina, e nesse episódio podemos conhecer um pouquinho das necessidades dessas pessoas.

      A propósito, por falar no assunto, vamos ao assunto deste post: um dos maiores poemas da Literatura Brasileira e da Língua Portuguesa, Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

      Nesse poema, acompanhamos a história de Severino, um retirante do sertão que ruma para Recife à procura de melhores condições de vida. Assim como o poema, a animação é extremamente tocante e, em vários momentos, vemos como quem fez a releitura em vídeo também tem seus traços de genialidade.

P.S.: outra dica preciosa é a canção Funeral de um lavrador, de Chico Buarque. Canção esta em que Chico canta versos de Morte e vida severina.